Luiz Alberto Rodrigues – Ex-Deputado Federal e ex-secretário do Governo Estadual
Era uma vez um menino, apaixonado pelo pai, Edmar Tito de Almeida, seleiro de ofício, vendeiro para ganhar a vida e fazendeiro para criar a família, e encantado com a mãe, Aurora Pereira de Almeida, que cuidava da casa, dos filhos, do marido e da venda.
Ele nasceu no povoado do Valo Velho, no município de Pratinha, no dia 22 de agosto de 1931, depois de Teresa e antes de Albertina, Maria José e Edmar, uma família de cinco irmãos.
Ronan Tito de Almeida sempre de orgulhou de ser da Pratinha, de São Domingos dos Araxás, de Uberlândia e dos vários mundos que ele descobriu ao longo de uma caminhada de 93 anos, encerrada no dia 10 de abril de 2025.
A família, entristecida pela partida de seu esteio mais resistente, decidiu que a cerimônia de despedida de um grande líder político da restauração democrática brasileira não seria um acontecimento político para repercutir na opinião pública. O corpo do homem público, que foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia, vice-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, deputado federal por dois mandatos consecutivos e senador da República, foi velado apenas por familiares e poucos amigos que sempre caminharam ao lado de Ronan Tito.
Mas a notícia acabou repercutindo e foi recebida com pesar por políticos de vários partidos que enalteceram as qualidades pessoais e de cidadania do ex-senador.
Miro Teixeira, ex-deputado carioca, deixou a seguinte mensagem aos amigos e familiares de Ronan Tito: “Tristeza. Na Constituinte, Ronan era companheiro em duras jornadas e generoso anfitrião com queijo mineiro de alta qualidade. Minas perde mais um grande representante. Pêsames à família”.
O presidente nacional do PMDB, deputado federal Baleia Rossi, publicou uma nota de pesar para lembrar que o ex-senador Ronan Tito, que foi presidente da Fundação Ulysses Guimarães e líder do PMDB no Senado, combateu a ditadura militar e participou intensamente da Assembleia Nacional Constituinte que possibilitou a restauração do regime democrático no Brasil.
O ex-deputado Luiz Alberto Rodrigues, companheiro de Ronan Tito e Zaire Rezende na luta política vitoriosa de Uberlândia e do Triângulo Mineiro, recordou que Ronan Tito foi um notável companheiro de Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Teotônio Vilela no combate à ditadura e na construção de pontes para a governabilidade da Nova República.
O ex-deputado federal constituinte Aloisio Vasconcelos enalteceu o trabalho político de Ronan Tito como secretário de estado do Trabalho do governador Tancredo Neves e assinalou que Ronan Tito e Alfredo Campos foram senadores que honraram a tradição política de Minas com iniciativas que eram acolhidas pelos homens públicos de maior destaque no cenário político nacional.
O ex-ministro da Saúde, José Saraiva Felipe, que foi presidente do PMDB de Minas e secretário geral do PMDB nacional, fez questão de registrar que Ronan Tito foi um político que se guiava por valores democráticos, compromisso com os mais carentes e respeito às instituições sociais que asseguram a defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana.
O senador Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado, também divulgou uma nota de pesar enaltecendo as qualidades pessoais e políticas do senador que ajudou a escrever uma das páginas mais significativas da resistência democrática ao regime civil militar de 1964.
O ex-deputado federal e ex-prefeito de Montes Claros, Luiz Tadeu Leite, amigo e compadre de Ronan Tito, afirma que fazer política com Ronan Tito era uma oportunidade de pregar a democracia, a convivência entre os diferentes e o diálogo com todos que respeitam os valores de uma convivência fraterna.
Entre os amigos que caminharam mais tempo ao lado de Ronan Tito, o sentimento de pesar não esconde uma contraditória alegria pela celebração de uma vida que foi plenamente vivida para servir. Ele tinha compromisso com os ideais que o impulsionaram para a Política. Deixou de ser o empresário que tinha muita estrada para percorrer. Não viveu para a família como gostaria de ter vivido. Desde criança, em São Domingos dos Araxás, onde se apaixonou pela vontade pedagógica de mudar o mundo através da educação dos salesianos de Dom Bosco, Ronan Tito tornou-se um quixotesco homem de fé na humanidade, um utópico sonhador com a política para promover o bem comum e um combatente incansável na luta contra as desigualdades sociais que ele enfrentava impetuosamente.
Ronan nunca escondeu que era quase reverencial com Tancredo Neves, fraternal com Ulysses Guimarães e Teotônio Vilela, a santíssima Trindade que ele reverenciava como os notáveis do PMDB.
Como deputado e senador, teve muita alegria de ter convivido com uma geração de políticos que honraram seus mandatos populares. Paulo Brossard, Pedro Simon, José Richa, Roberto Campos, Delfim Netto, Afonso Arinos de Melo Franco, Valdir Pires, Franco Montoro, José Sarney , José Fogaça, Aluísio Alves, Marcos Freyre, Marco Maciel, Thales Ramalho, João Paulo Pires de Vasconcelos, Simone Tebet, Maria Elvira Salles Ferreira são alguns políticos que Ronan apreciava por qualidades e inteligências distintas. Ele manifestou sempre certa contrariedade com os ex-companheiros Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Pimenta da Veiga, que deixaram o PMDB para fundar o PSDB.
O próprio Ronan confessou com certa amargura: “Com o PSDB, a nossa história é de completo desencanto. O PSDB é nosso pedaço arrancado, com a desculpa parlamentarista e o verniz social democrático, que dança conforme a batuta dos caciques da Avenida Paulista”.
Ronan Tito defendia a unidade do PMDB para reconstruir o estado democrático de direito. Foi mais um sonho não realizado. Ulysses Guimarães não foi presidente da República. Ronan Tito não conseguiu conquistar o governo de Minas Gerais. O PMDB se dividiu também em grupos liderados por políticos que não conseguiram devolver ao povo brasileiro a esperança que nasceu na campanha das Diretas, na luta pela redemocratização e na batalha contra os aventureiros que transformaram os partidos políticos em searas para o enriquecimento pessoal e patrimonial.
Ronan Tito, no final da caminhada, gostava de contar histórias de um tempo que não existe mais em nenhum lugar do planeta.
A bíblia de Ronan Tito não existe mais. Seu aprendizado de menino perdeu o sentido. Os governantes não falam mais para as futuras gerações. Estão perdidos nas redes sociais do personalismo e do egoísmo. Mas nem tudo está perdido. A juventude pode salvar a humanidade com novos sonhos. O sonho da gente não morre jamais. Somos todos das Minas e das Gerais. Como Ronan Tito de Almeida, do Valo Velho, da Pratinha do Araxá.